Um dos maiores reservatórios de Pernambuco atingiu o volume morto.
Muitos açudes do Nordeste estão no limite da reserva de água. Em alguns, a captação nem tem mais como ser feita. O Globo Rural visitou barragens em três estados: no rio Paraíba, no Capibaribe, em Pernambuco, e no Piranhas-Açu, no Rio Grande do Norte.
Todo dia os pescadores vão ao açude na esperança de pescar algum peixe, mas eles retiram apenas os bem pequenos que não servem para venda. “Hoje eu vivo de trabalhar para os fazendeiros, venho pescar assim que é um peixe pra comer na semana. É um tempero”, fala o pescador Luis Henrique Marques da Silva.
O açude Gargalheiras fica em Acari, a 200 quilômetros de Natal. Ele está com menos de 1% da capacidade e o volume morto não serve mais para o abastecimento da população. Esse ano, a média de chuvas foi 40% menor do que o esperado. Na cidade, a seca obriga a população a pegar água nas caixas abastecidas por carros-pipa.
Pernambuco
A situação também é preocupante em Pernambuco. A barragem de Jucazinho é a mais importante do agreste do estado. Ela fica no município de Surubim e tem capacidade de armazenar 327 milhões de metros cúbicos de água.
A última vez que a barragem atingiu a capacidade máxima foi em 2011. De lá pra cá não choveu o suficiente. Assim, o volume foi baixando, baixando e o resultado é a seca. Hoje dá para caminhar pelas áreas que antes estavam submersas.
A barragem está com menos de 3%. Jucazinho atingiu o chamado volume morto. O fornecimento de água para três, dos 15 municípios atendidos pelo reservatório, foi suspenso. Os agricultores também não podem mais contar com os caminhões-pipa que não têm de onde retirar água.
Paraíba
A situação também é crítica na represa do Boqueirão, na Paraíba. Com a escassez de chuvas nos últimos anos o açude Epitácio Pessoa, no agreste paraibano, está com um nível de água abaixo dos 16%. Por isso, há dez meses, 19 municípios enfrentam o racionamento.
Sem a irrigação, cerca de 4.500 trabalhadores que dependiam de forma direta ou indireta do plantio de frutas e hortaliças foram prejudicados. O agricultor Anchieta Morais está sofrendo com a falta de água. Na propriedade dele tinham 500 pés de maracujá. Por semana, ele conseguia tirar até 60 sacas da fruta. “Hoje a gente não ta conseguindo tirar nenhuma porque morreu tudo.”
As perdas no campo se refletem diretamente no comércio da cidade. Vários estabelecimentos fecharam as portas. Em uma loja especializada em equipamentos agrícolas, a dona diz que nunca passou por tempos tão ruins. Ela teve que reduzir o quadro de funcionários que passou de seis para três pessoas.
Para fugir da seca, muitos agricultores decidiram ir embora da região, mas alguns já estão fazendo o caminho de volta. “Fui para outra região. Depois de um ano a água está rala, pouca, não tem jeito”, diz o agricultor João Bernardino.