O assunto é tão sério que levou as Nações Unidas a assinalar hoje o Dia Mundial da Sanita para recordar que quase 40% da população no mundo não tem saneamento básico. E são as crianças que mais sofrem: 1,5 milhões morrem todos os anos por causa da escassez de água potável.
Hoje é o Dia Mundial da Sanita. Dá vontade de rir, não é? Mas a efeméride, reconhecida pela ONU desde 2013, pretende ser muita coisa. Menos uma piada. E a vontade de rir desaparece assim que se conhecem os motivos. A data serve de alerta para um problema que todos os anos mata milhares de pessoas, sobretudo as crianças que habitam nos lugares mais pobres do mundo.
Um em cada três habitantes deste planeta – 2,4 mil milhões – vive ainda sem saneamento básico. O fenómeno é tão assustador que a falta de progressos neste campo ameaça os avanços obtidos com o cada vez maior acesso a água potável que o mundo foi conquistando nas últimas décadas, adverte o estudo da UNICEF e da World Health Organization.
A falta de higiene e a escassez de água matam anualmente cerca de 1,5 milhões de crianças com menos de cinco anos, um número que ultrapassa doenças como sarampo, malária e sida, todas juntas. Destas, 800 mil morrem todos os anos devido a diarreias causadas por águas poluídas e más condições de saneamento.
Doenças A ONU alerta que as deficientes condições sanitárias aumentam os riscos de contrair e propagar doenças, e ainda o número de mortes devido aos problemas relacionados com a má nutrição. O secretário-geral das Nações Unidas chama também a atenção para outros problemas que nem passam pela cabeça da maioria da população a viver no mundo industrializado: “Uma em cada três mulheres em todo o mundo não tem como usar casas de banho seguras. Consequentemente, estão sujeitas a apanhar doenças, ter vergonha e correr o risco de violação quando procuram lugares para fazerem as necessidades”, afirmou ontem Ban Ki-moon.
Apesar do cenário pessimista, o acesso à água potável no planeta avançou em vários países nas últimas décadas. Desde 1990, cerca de 2,6 milhões de pessoas passaram a poder beber água sem perigo de ficarem doentes e 91% da população mundial já viram melhorias na qualidade de água que consomem. Esse número continua a crescer, mas o certo é que ter instalações sanitárias adequadas é um luxo apenas para 68% da população mundial.
E se julga que este é um problema que acontece lá longe, talvez fique surpreendido com as estatísticas em Portugal: ainda há 12 mil portugueses que não têm uma torneira em casa e que, por isso, recorrem a fontanários. Os dados do relatório “Controlo da Qualidade da Água para Consumo Humano 2015”, da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), mostram que são sobretudo povoações localizadas no norte e centro do país. Este número, no entanto, tem vindo a diminuir. Em 2013 estimava-se que eram 17 mil as pessoas que utilizavam água dos fontanários.
Portugueses As estatísticas globais mais recentes para o saneamento básico em Portugal ainda são dos Censos de 2011, que revelavam existirem 44 mil pessoas sem água canalizada em casa (0,6% das famílias). Mas quando se aprofunda este problema, conclui--se que 50 mil portugueses não tinham sanita (0,7%), 80 mil viviam sem autoclismo, 156 mil não tinham instalações de banho ou duche (1,9%) e 18 mil (0,7%) não usavam qualquer sistema de esgotos. Resumindo, em 5% das casas faltava pelo menos uma infra-estrutura considerada básica. Tão básica que o saneamento é um direito consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Saneamento básico. Como uma simples sanita poderia salvar mais crianças
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nov