Reação da água da chuva com produtos químicos pode ter causado incêndio na Localfrio
A reação da água da chuva com produtos químicos armazenados em contêineres pode ter iniciado o incêndio que atingiu uma área do terminal da Localfrio, na Margem Esquerda do Porto de Santos, na tarde de ontem. A informação é da Cetesb, mas o Diário do Litoral ouviu um funcionário da empresa, que também confirmou a hipótese. Até o fechamento desta reportagem, o fogo ainda não havia sido controlado e a previsão era de que o combate às chamas seguisse durante a madrugada.
O fogo teve início por volta das 15 horas de ontem, após uma explosão, e se alastrou. Segundo a empresa, até as 21 horas de ontem, 12 contêineres haviam sido atingidos pelas chamas. A Localfrio confirmou que o material em combustão se tratava de ácido dicloroisocianurato de sódio – um pouco antes o Corpo de Bombeiros havia informado que se tratava de amônia. Um funcionário da empresa precisou ser removido para hospital.
Segundo a Cetesb, havia no local 85 contêineres, dos quais 90% com o ácido, usado principalmente na desinfecção de piscinas. O restante, segundo o órgão, era peróxido orgânico e nitrato de potássio. Funcionários da empresa informaram que pelo menos 50 contêineres haviam sido atingidos e não 12 como informou oficialmente a assessoria de imprensa da empresa.
O trabalho do Corpo de Bombeiros é combater as chamas para que elas não atinjam outros contêineres com produtos tóxicos e, assim, a densa fumaça branca que atinge principalmente as comunidades da Prainha e Vicente de Carvalho seja dissipada. No primeiro momento, os moradores foram orientados a permanecerem fechados dentro de casa.
Algumas regiões de Santos, Cubatão e São Vicente também foram atingidas pela fumaça tóxica. Moradores relataram um forte cheiro de cloro e irritação na garganta e nos olhos.
Vias fechadas
Assim que o incêndio teve início e a fumaça tóxica passou a atingir Vicente de Carvalho, a Prefeitura de Guarujá fechou as principais vias de acesso ao bairro. Apenas carros do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, ambulâncias e da imprensa. A avenida Santos Dumont, onde está localizado o terminal portuário, foi interditada. O tráfego foi liberado por volta das 19 horas.
Devido a interdição das vias, os primeiros carros do Corpo de Bombeiros tiveram dificuldades para acessar o local do incêndio. Segundo funcionários da empresa, as viaturas entraram na área do terminal por volta das 16 horas. A Polícia Civil chegou às 17 horas.
Operações
Com o incêndio, as operações no terminal da Localfrio foram paralisadas. Outras empresas próximas ao local também interromperam as atividades. Caminhoneiros que aguardavam para carregar ou descarregar produtos tiveram que esperar do lado de fora.
O presidente da empresa, Helio Vasone Junior, chegou ao terminal por volta das 17 horas para acompanhar os desdobramentos do incêndio. Ele não falou com a imprensa.
O terminal da Localfrio está localizado na Margem Esquerda do Porto de Santos, e possui uma área total de 78.176 m² destinada à logística de carga nacionalizada (armazém geral) e operações de exportação e cabotagem.
Segundo a Cetesb, a Localfrio possui licença de operação válida até 1º de setembro de 2017, autorizando a movimentação e a armazenagem
Relatos da tarde cinza e de apreensão em Guarujá
A densa fumaça branca com direção a Vicente de Carvalho chamava a atenção de longe. Ainda na balsa, na travessia entre Santos e Guarujá, as pessoas buscavam informações sobre o tipo de material incendiado no terminal da Localfrio. Para chegar até a o local, a Reportagem precisou enfrentar pelo menos três bloqueios. Os veículos eram impedidos de acessar as vias que davam acesso àquela região. Não se enxergavam nada em um raio de dois metros. O nevoeiro químico encobriu uma das principais avenidas da Cidade.
Já na Avenida Santos Dumont, onde fica o terminal da Localfrio, muitos trabalhadores tentavam retornar para suas casas. Alguns buscavam, ao telefone, informações de parentes que estavam em Vicente de Carvalho, região onde está localizada um do maiores centros comerciais da Baixada Santista. Assim que a densa fumaça atingiu o bairros, os comerciantes fecharam as portas.
“Há muita fumaça. O cheiro de cloro é horrível não sabemos o que fazer”, enviou a esteticista Roseli dos Santos, via aplicativo WhatssApp. De férias, em Santos, a moradora de Santa Catarina dedicou a quinta-feira para visitar os parentes em Vicente de Carvalho. Os relatos de moradores de outras cidades vizinhas, no Facebook, também deram um tom assustador.
O terminal de ônibus de Vicente de Carvalho parou, assim como o serviço de barcas. Informações também davam conta de que a Base Aérea de Santos também parou por cerca de 45 minutos.
Na porta da empresa, funcionários saiam sem falar com a Imprensa. A chuva não deu trégua, o que, segundo a Defesa Civil de Guarujá, ajudava a resfriar os contêineres, mas não combatia as chamas, que aumentavam cada vez mais. Por volta das 17h25, uma nova e forte explosão foi ouvida.
Dois caminhoneiros de Jundiaí tentavam retirar a carga que deixaram para trás assim que foram orientados a deixar o local devido ao incêndio. “A gente está sem informação sobre o que vai fazer. Ninguém disse nada. O caminhão está próximo da área onde está pegando fogo”, disse um deles. Um outro caminhoneiro de São Paulo aguarda desde a última terça-feira para carregar. “Agora acho que vou ficar mais um pouco. Enquanto esse incêndio não terminar não vão liberar a carga”.
Por volta das 20 horas, quando a Reportagem retornava à Redação, a chuva ainda não havia cessado e o fogo ainda continuava – sem previsão para acabar – no terminal. A orientação era de que as pessoas não entrassem em contato com a água da chuva, que poderia ter partículas tóxicas. Já do outro lado da balsa, em Santos, o cheiro de cloro era insuportável.